22 de maio de 2016

A morte...

Hoje olharei para o céu de uma forma diferente, hoje está lá mais um dos meus anjos, por isso vou agradecer-lhe!


A morte, de que vos venho falar, não é a morte de um familiar, é a morte de um utente, de uma pessoa pela qual lutamos durante tempos e tempos, fizemos o nosso papel é certo, mas o fim foi inevitável.


Começo já por dizer que nunca me vou referir à morte como "falecer", na verdade odeio essa palavra. Parece tão cheia de arranjos para tornar menos dura, uma dura verdade!

A morte poderá sempre ser vista de milhares de formas, até à pouco tempo era vista para mim, com grande tristeza, lágrimas, saudade, uma reflexão dos bons momentos, dos maus momentos, dos momentos vividos entre mim e essa pessoa, daquilo que eu tinha contribuído para o bem e para o mal da vida dessa pessoa… Em breve tornar-me-ei profissional de saúde, como é que um profissional de saúde encara a morte? Com frieza e a pensar que é a lei da vida?
Sempre foi assim que eu pensei que era e teria de ser, teria de me tornar para conseguir não sofrer, mas será? Como é que eu, um coração de manteiga derretida, frágil e sempre tão calorosa, me torno fria? Não, não é possível nem pode ser essa a solução, recuso-me mais uma vez a aceitar isso. Uma morte é uma tragédia, é o fim de um milagre, o milagre da vida! Por isso sim vou ficar triste, sim vou chorar, sim vou refletir em tudo o que aquela pessoa era, me ensinou, me transmitiu, que eu lhe transmiti, ou que eu não tenha feito por ela e gostasse de ter feito. Vou refletir nela e em mim, refletir mais uma vez na brevidade da vida e no milagre que eu ainda tenho de a estar a viver. 

Eu aceito a lei da vida, o nascer, crescer, viver e morrer, assim como aceito que é um milagre, o maior e para mim único verdadeiro milagre que existe, mas não sou, nem me quero tornar indiferente ao fim deste milagre.

Talvez sejam palavras pouco sábias, muito ingénuas e imaturas, mas para mim o término de uma vida nunca será apenas mais um. Foi um ser que esteve cá comigo e com tantos outros, a praticar o bem e a fazer do mundo um sitio melhor da melhor forma que conseguia, sabia e acreditava.

Falando agora em específico dos idosos: devem ser respeitados, amados e nunca abandonados, como tantas vezes acontece. Foram eles que fizeram parte do nosso próprio passado, foram eles que lutaram para termos tudo o que temos hoje – a liberdade, a evolução na medicina, na literatura, na música, nas tecnologias, nas casas, nas fábricas – foram eles que fizeram de nós quem somos hoje e no futuro! Eles deram as suas vidas por este mundo e por nós, e uns de uma forma melhor outros de uma forma pior, fizeram sempre o que achavam estar correto, cada um deles à sua maneira criou um pouquinho do mundo, por isso para mim são bocadinhos de mim, e quando algum morre, para mim, será sempre um bocadinho de mim que vai com ele, e um bocadinho dele que fica comigo.

Não importa se eram "meros" pedreiros, faziam limpezas, ou ajudantes de cozinha, se eram advogados, o primeiro ministro ou o Papa, todos eles eram pessoas! Pessoas que contribuíam para esta sociedade se manter equilibrada. Todos são pedras preciosas, diamantes, todos têm o seu papel fundamental na nossa sociedade e nenhum deve ser menosprezado por qualquer que seja o motivo! Muitas das vezes ficamos triste quando alguma figura pública morre, porque fez grandes feitos, mas se pensarmos bem... Não são feitos grandes feitos todos os dias? Não morrem pessoas todos os dias? Então, qual é a diferença entre elas? Porque é que eu não posso ficar triste quando um utente morre, mas tenho de ficar quando uma figura pública morre?

Eu sei, é um tema complicado, mas afinal de contas para que serviram todos os anos na escola a dizerem-me que "Somos todos iguais"?



Obrigada minha estrela que chegaste hoje aí ao céu, mas o teu trabalho ainda não acabou, brilha e ilumina este planeta em que outrora viveste, sê como sempre foste um lutador, e luta pela salvação destes seres desorientados, ilumina-os, guia-os, guia-me!

Beijinhos,
Fiona

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