1 de junho de 2016

Acidente

Está a chover quase torrencialmente, já houveram muitos acidentes e o piso não está só inundado, em certos sítios está transformado em lago.


A mãe diz ao telefone "vai devagar" a consciência diz "tem cuidado" e a viagem vai-se fazendo devagar. 

O carro continua a fazer a curva, mas a curva já não existe, agora é uma reta, mas o carro está a ir contra a parede, tento desvia-lo, rodo o volante todo para o lado oposto, e de repente os pneus aderem ao meu comando, e rodam o carro todo para o outro lado, faço um pião, bato novamente agora em uma parede e paro, o carro para.


Seguem-se segundos de alívio, seguidos de horas de desespero.
Não bati em nenhum outro carro, não aleijei ninguém e, nem eu própria tenho nenhum arranhão, mas o carro está completamente espatifado, e é só nisso que eu consigo pensar.
Estou em estado de choque, ou então pânico, faço o que é suposto se fazer, os quatro piscas, o triângulo, o colete, mas não sou eu quem o faz, é aquela réstia de responsabilidade. Telefono para quem tenho de telefonar, e mal tenho a oportunidade, mal o "dever" tenha sido cumprido, derramo todas as lágrimas que estavam a ser acumuladas desde a última vez que chorei. Grito, falo de tudo o que me tem atormentado, de tudo o que me tem deixado devastada, e digo tudo que aconteceu apesar de todos os cuidados que tive.

Não percebo, não entendo como é possível, como me acontecem coisas assim... e aí percebo, eras tu a quem eu devia estar a contar tudo isso, eras tu quem me devia ouvir e apoiar.

Eras, mas já não és mais, tu escolheste assim, e eu já não sei se te quero de volta. Eras tu a quem eu devia ter-me apoiado neste semestre tão difícil, era no teu ombro que eu devia ter chorado, era aos teus ouvidos que eu devia ter contado todos os meus medos (que, como bem sabes, não são poucos), era dos teus lábios que eu devia ter ouvidos as palavras de conforto, sim era... mas não foi.

Isso, por mais que me magoe, faz-me querer-te bem longe de mim.
Porque quanto te vejo eu ainda te amo e quando não estás, por mais doloroso que a situação seja, eu sei que se tu não estás comigo foi porque assim o decidiste, e tornasse mais fácil... iludir-me que já não te amo...

A realidade tornasse menos massacrante, menos dolorosa. 

Sem comentários:

Enviar um comentário